O Acordo Ortográfico II


Escusado será referir, uma vez mais, o meu repúdio total e inequívoco pelo famigerado "Acordo Ortográfico" recentemente entrado em vigor no nosso país.
Sendo eu um orgulhoso anónimo, a minha opinião não conta para nada, mas pelo que tenho lido, não sou o único a achar tudo isto ridículo. Personalidades de renome têm-se insurgido veementemente contra tal documento, e a notícia que aqui publico é apenas a opinião de mais uma delas.
Politiquices à parte, fica o depoimento do escritor Vasco Graça Moura, no dia de ontem.


Lisboa, 03 Abr (Lusa) - O escritor Vasco Graça Moura disse hoje que "é um acto cívico batermo-nos contra o Acordo Ortográfico", que qualificou de "inconstitucional".

O escritor e eurodeputado, que falava na Livraria Byblos em Lisboa a convite da Associação Portuguesa de Editores (APEL) e Livreiros e da União de Editores Portugueses (UEP), disse que "o acordo não leva a unidade nenhuma" e antes de qualquer ratificação havia que chegar a um vocabulário técnico-científico comum.

Graça Moura disse que ratificar este Acordo era inconstitucional pois "não se pode aplicar na ordem interna um instrumento que não está aceite internacionalmente" e nem assegura "a defesa da língua como património, como prevê a Constituição nos artigos 9º e 68º".

Vasco Graça Moura considerou o Governo "irresponsável", acusando-o de agir apressadamente" e de ter mentido ao afirmar que consultou a Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (que não existe), e mesmo querendo referir-se á APEL - disse - não o fez.

"O Governo não consultou nem a APEL nem a UEP, por isso está a mentir", acrescentou.

Por outro lado, o autor de "Sonetos familiares" afirmou que "se quer impor o Acordo de qualquer maneira, pela lei do mais forte", tendo afirmado que "somos condóminos da língua" e "não podemos ver-nos como 10 milhões contra 200 milhões, nós somos pelo menos 40 milhões, e diferenças são inevitáveis".

Graça Moura, que ao longo da palestra citou vários linguistas e historiadores da Cultura, afirmou que "para este Acordo não foi tida em conta as pronúncias africanas".

Segundo enfatizou, no caso do Acordo há duas Academias, a brasileira e a portuguesa, a dialogar entre si, enquanto do lado africano são representantes dos respectivos Governos, "para não falar do simbolismo de Goa e Macau".

No caso dos países africanos, disse, "a língua portuguesa é um caso de identidade nacional, num território onde proliferam outras línguas, para não referir da fragilidade da alfabetização do português nesses países".

Por outro lado, acrescentou, o Governo nem consultou pareceres anteriores, nomeadamente os das direcções dos ensinos básico e secundário que em 1986 "manifestaram-se contra o Acordo".

O escritor lembrou ainda que nessa altura "houve uma forte contestação de toda a sociedade ao Acordo que é o mesmo que agora querem ratificar".

Graça Moura criticou ainda "o silêncio, no matéria tão crucial como esta, a que se remeteu a actual ministra da Educação", Maria de Lurdes Rodrigues.

Entre a audiência estava a ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, que lembrou "que o Governo herdou uma situação, nomeadamente o facto de o executivo anterior ter assinado, em 2004, o Segundo Protocolo Modificativo que previa a entrada em vigor do Acordo caso três países, o ratificassem o que veio a acontecer em 2007.

"O actual Governo ficou com uma criança nos braços que se começa a mexer quando em 2007 Cabo Verde ratifica o acordo", disse a actual deputada do PS. (Brasil e São Tomé e Principe foram os outros países que já ratificaram o acordo).

Pires Lima afirmou que não acredita em pressões económicas, nomeadamente portuguesas, para a ratificação do Acordo e lembrou que a sua adopção "também não foi assim tão pacífica no Brasil".

A ex-ministra, reputada especialista na obra literária de Eça de Queiroz, disse que não tem "nem muito nem pouco entusiasmo pelo Acordo", mas também não participa "nas cruzadas pró ou contra".

Isabel Pires de Lima que afirmou fazer uma "leitura idêntica" à de Graça Moura e concordou com o conferencista quanto "ao perigo que representa se um país ou dois, ou três, colocarem em prática o acordo".

"Há o perigo de criar uma fractura caso um país ou um pequeno grupo coloque em prática o Acordo", disse Graça Moura.

Zita Seabra, deputada do PSD e editora, falou da sua experiência, nomeadamente a compra em conjunto por editores portugueses e brasileiros dos direitos de obra.

"Combinámos que nós fazíamos a tradução e eles a revisão e numa outra obra trocávamos, mas tivemos de desistir pois ficava mais caro e era mais complicado rever a partir da tradução do que directamente da língua original", disse a responsável pela Alêtheia.

Os editores que intervieram no debate foram todos contra a ratificação do Acordo.


© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-04-03 19:55:01

2 comentários:

Anónimo disse...

O José Saramago é que deve estar a achar graça a isto, deve... José Saramago em Portugues alterado nao é José Saramago.

Anónimo disse...

Há uns anos ( poucos) qd crianças de rua foram abatidas pela polícia brasileira - a força do estado brasileiro -, a hegemonia numérica desse país cuja sociedade civil aplaudiu mais do que recriminou não abalou os princípios éticos vigentes e acatados pela sociedade cívil de pais como a Noruega ou Suécia ( países pequenos em número de habitantes, como nós).
É fraco o argumento do número! Como é abjecto e ridículo colocar a possibilidade de um sim e um não ao Acordo Ortográfico.
Se o Brasil quer impor ao mundo o que quer que seja que o faça só.
Faz sentido PORTUGAL alterar o que quer que seja para servir os caprichos de um país que não se sabe comportar ( legitimando o abate de crianças de rua como uma forma de resolver um problema) nem acatar a Declaração Universal dos Direitos do Homem?
Não terão os portugueses vergonha?? Os Cangalheiros ( pseudo-poetas e romanceiros de prosa fraca) estão levianamente a expressar-se como escrevem os seus livros medíocres … “ninguém vai preso”! O VascoGraçaMoura mais não pode fazer! O Carlos Reis dá pena ( gostaria de ver a declaração de património desse Sr.! ). Os Portugueses não Têm noção nem consciência desta concessão! É ficar com o ROSTO MANCHADO, sem face! Não faz sentido! Será que há assim tantos analfabetos em PORTUGAL! Tanta gente BURRA!?