Hetero-Avaliação

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Fosse eu poeta, e escrever-vos-ia tanto sobre tantos assuntos, que daríeis por vós enjoados, assolados por reflexos de regurgitação mais frequentes ainda, que as vezes que vos bombardeio com devaneios acerca de tudo e nada: as vicissitudes de vidas desfeitas, tristezas e deprimências, estereótipos de comportamentos depressivos, e mortes. Mortes, mortes, morte...

Não sou.

Assim, sou apenas: o ilusionista, o inventor de estados de espírito, o inconstante, difuso e disperso, contador de estórias. Ou pelo menos, assim me achais, vós que me ledes há tanto tempo, há tempo demais. Vós que nem sequer me conheceis, julgais-me assim, provavelmente. Digam-me, se estou longe da verdade. Façam o favor de se manifestar, o Gravepisser atravessa por estes dias uma espécie de crise existencial-virtual, que em ultima análise, e a não descortinar rapidamente o motivo/solução para este seu estado semi-catatónico-criativo, poderá significar a sua retirada, temporária ou permanente, do cada vez mais complexo mundo da blogosfera.

E assim vos deixo, por agora, apelando ao vosso sentido crítico - socorrei-vos de qualquer um dos meios de contacto que tendes ao vosso dispor, e dizei-me de vossa justiça. Se para tal necessitardes de uma qualquer droga, com a finalidade de "soltar palavras", descansai: é só deixardes-vos levar, pela simplicidade profunda de um som primitivo-contemporâneo, esse mesmo que encontrais aí em baixo, e que para vossa maior comodidade, tive o cuidado de deixar em autoplay.

Obrigado.

Um Recadinho



Triste condição, a de alguns seres humanos. Continua a entristecer-me, a volatilidade de alguns espíritos, frágeis, prontos a explodir a qualquer instante, dissipando-se com a mesma facilidade com que foram concebidos, no início.

Prontos a embrenharem-se, com vontade, nas lutas infundadas, a roçar o ridículo, para as quais se julgam mobilizados por uma força (hierárquica?) teoricamente superior, mas que na prática, e aos olhos da lucidez, se resume a NADA.

Convictos da sua pseudo-capacidade em transformar água em vinho, que é como quem diz, de extrair dos NADAS uma soma de virtudes divinas capazes de guiá-los pelos caminhos que julgam ser os seus predestinados, estes bloggers desesperam, hoje e sempre, por um minuto da atenção dos seus heróis, pois só assim conseguem alcançar uma espécie de paz interior que é suficiente para acalmar a fúria da solidão que os consome por dentro.

Quando a fraqueza nos impede de discernir correctamente a realidade da ficção, quando a única fonte de positivismo se situa algures online atrás do ecrã de um computador... Pouco ou nada há a fazer.
Consciencializarmo-nos do problema, é o primeiro passo para a sua resolução.

Não sou médico, psicólogo ou psiquiatra. Não sou perfeito, aliás, sou muitíssimo imperfeito. No fundo, sou um tipo comum, extremamente céptico e terra-a-terra, que vê na blogosfera mais um meio de se expressar, um escape por vezes, mas não mais que isso. A minha vida/felicidade não dependem disto, nem pouco mais ou menos. Não preciso de um blog para ter amigos/ser feliz. Não bajulo quem quer que seja, pois ninguém é superior a mim. Nem inferior... Não sou um monstro de sete cabeças, sou aliás, um indivíduo extremamente acessível, não obstante a tremenda complexidade da minha personalidade.

Exijo respeito para com a minha pessoa, da mesma forma que eu também respeito toda a gente. Que ninguém tente banalizar-me, estupidificar-me ou personificar em mim outrem, seja ele/ela quem for. Não gosto, não quero nem permito.

Fica feito o aviso. Quem tiver alguma coisa a dizer, quem deseje contactar comigo além deste espaço, tem um endereço de e-mail público acessível no meu perfil.

E é tudo, por enquanto.

Desculpem lá qualquer coisa, mas tinha mesmo de dar este recado.

Fragile Dreams

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Ouvia-se ao longe, o persistente tic-tac do velho relógio de pêndulo que teimava em resistir à força da própria razão da sua existência: o tempo.
Um dos últimos estandartes da resistência ecléctica dos que não quiseram ir, "porque não queriam perdê-lo", diziam. O tempo... Preferiram afogar-se nas paredes oblíquas, tomadas pelo bolor dos dias todos iguais, que ao de leve passavam, por entre frisos, frestas e buracos, mais psíquicos que propriamente físicos.

Preferiram deixar-se por lá estar, indiferentes ao cheiro húmido da podridão jazente, tomados pelo selvagem desejo da tal morte que preconizavam. Da tal morte dissecada, explicada e teorizada à sua maneira, nos milhões de pequenos papéis espalhados pelo chão, escritos a lápis vermelho, da cor do sangue vivo que jorrava dos seus corpos, sempre que mais um pouco de carne era arrancado, em nome do tal castigo divino, auto-imposto, em nome de tudo o que não foram, porque não.

E ele queria tanto, juntar as peças de todos os puzzles, compreendê-los, para compreender-se por fim... Mas era incapaz. Faltava sempre a força para derrubar a porta... Ou as palavras, nunca suficientemente sucintas ou cativantes, a pontos de os demover da única vontade que haviam tido, desde sempre.

E assim sendo... O jogo acabava ali mesmo, para ele.

The road ahead is lined with broken dreams... So walk, yeah, walk on by...

As Mãos e os Quartos


(Imagem: Link)


Pela mão do artista nascem por vezes as maiores obras-primas ao mundo ofertadas, expostas num qualquer museu, centro cultural, casa particular ou simplesmente, num pedaço de papel velho, amarelecido pela passagem do senhor tempo, afixado num qualquer canto de uma qualquer parede bolorenta de um qualquer quarto cinzento, desarrumado, desprovido de qualquer valor para quem quer que seja, além da pessoa que nele desagua, descarrila, morre e ressuscita todos os dias.

São assim os quartos. Alguns têm tantas histórias para contar, que dariam livros, caso alguém se desse ao trabalho de interpretar as mensagens presentes nas paredes, nos objectos, e nas próprias pessoas que por ali foram passando ao longo dos anos. Mas… Ninguém quer saber.

Digamos que não é um tema susceptível de grande apreciação, as venturas e desventuras de um quarto em específico. Por mais histórias que aquelas quatro paredes tenham em si entranhadas, falta a paciência para escarafunchar no gesso, para percorrer com o olhar cada milímetro da tinta branca que um dia as caracterizaram.

Faltam, sobretudo, as mãos. Essas, que de tão cansadas, fraquejam constantemente, protestam contra os ofícios ou a falta deles, contra o frio ou o excesso de calor, contra as suas semelhantes que são obrigadas a apertar indefinidamente, sem que lhes sejam dadas quaisquer alternativas… No fundo elas só queriam poder optar.

Talvez seja por isso que a caneta saia cada vez menos da posição horizontal que ocupa na secretária. Também ela se recusa a auxiliar-me, sempre que da gaveta penso em tirar as histórias imensas que aqui vos conto. Será um complô, entre a caneta e as mãos… Também elas estarão fartas dos caprichos do seu mestre. Também elas servem de metáforas perfeitas, para um texto que não foi escrito para ser entendido por quase ninguém.

Também elas não querem “ir por alí"…