Estranged

(Imagem: Link)


Nem sempre pulsa a um ritmo aceitável, este coração cansado de tantas guerras perdidas e tão poucas batalhas ganhas.

Por vezes quer sair do peito e trilhar sozinho o caminho que os pés lhe negam, mas quase sempre encontra barreiras intransponíveis.

Seja a pouca razão que resta neste cérebro titubeante, sejam as correntes de energia que os outros corações

(também eles velhos e cansados)

formam à sua volta e, teimosamente, o vão mantendo por cá

(mesmo contra a sua vontade)

Não sei.

Só sei que o silêncio da noite há muito deixou de me trazer a paz a que me habituou, para ser agora portador de estridentes ruídos e infindáveis guerras

(que não são minhas, mas mesmo assim),

me atormentam e impedem de dormir, e quando consigo, mais violentas e sangrentas ainda

(as minhas guerras e as dos outros)

para acordar desnorteado e confuso, cansado e despido da minha própria essência.

É assim há tanto tempo, que não creio existirem no mundo inteiro fármacos capazes de aliviar o fardo, ou substâncias psicotrópicas que me ajudem a respirar melhor

(dizem que dão cabo do cérebro, mas eu não acredito que o meu possa ficar pior do que isto)

mas mesmo assim não vou por aí.

Já não sei para onde vou nem por onde vou. Antigamente sabia, ao menos, que não ia por aí

(ou por ali)

mas agora já nem isso.

Estou cansado.

Longa vai já a viagem, neste mar revolto que tantas vezes me atirou contra os rochedos

(o casco já não aguenta mais sovas)

Um dia destes vou encalhar, e só me resta esperar que seja num sítio bonito

(para feio já basta este onde vivi toda esta espécie de vida)

e sonhar...