(Your) New Born



Levanta-te! Desse teu efémero leito de agonia, ergue-te e seca as lágrimas, que correram sem que as origens da sua causa algum dia o tenham merecido.
Etapas negras foram e são, mais que muitas. Quem me dera, ter o poder de as pintar de branco. Quem me dera, ser igual a ti, na soma de tudo aquilo que te faz grandiosa, senão aos olhos do mundo, aos meus, pelo menos.
Quem me dera, que da subtracção de tudo o que me apaga, fosse capaz de se acender a luz eterna da paz do teu espírito...

Ah... Quem me dera saber. Mas não sei nada. Só sei o que sinto, pelo menos em relação a ti, única pessoa que eu sempre tive ao meu lado durante toda a minha conturbada existência.
Só sei, que ainda não vai ser desta que te vais abaixo, porque a grandeza da alma é sempre superior a tudo, resiste inclusivé, à debilidade física, à dor da ausência de quase tudo...

Parcas palavras do coração doente que por estes dias tem um duro teste. Resistente, também ele, haverá de bater por ti até à sua derradeira contracção, aconteça o que acontecer. É a única certeza que te posso dar... A única.

Clueless...?




Poderia ser esta a forma mais perfeita de me despedir de todos vós, que aqui me sentis neste espaço cada vez mais desprovido de qualquer sentido que possais ter-lhe atribuido ao longo dos tempos.

Já foi tanta coisa, este blog. Montra de afectos e desafectos, essencialmente... Chorastes e ristes vezes sem conta, enquanto verificastes com os vossos próprios olhos a imprevisibilidade, a insanidade crescente deste seu autor. Não seria por isso de estranhar, que para último suspiro tivesse escolhido tamanha perfeição audiovisual, para vos deleitar a alma como quase sempre tentei fazer aqui, ainda que a maioria destes textos, imagens e vídeos não passem de meros desabafos, chamemos-lhe, de simples gritos de raiva, desespero e em tempos, de alegria, ainda que extemporânea e efémera (como sempre).

Descansem, contudo, os pouquíssimos corações que ainda reservam para mim parte do seu espaço, de uma forma ou de outra. Não será assim que vos livrareis de mim... Mas que este vídeo me arrasou por completo, é inegável... E eu que tanto me tenho esforçado para deixar de ser o tal "emo" que as pessoas odeiam, desta vez não pude evitar. Espero que compreendam e me perdoem, uma vez mais, a sinceridade, quiçá insensatez ao expor uma vez mais perante vós a real fragilidade do meu ser...

Step By Step, Till The End

(decay, by mysticalpotatohead, deviantart.com)



Tão cruéis, essas facas que tendes, essas que me matam lentamente sem que eu sinta, sequer, a picada.

Já não sei defender-me. Não quando me destruístes todos os escudos que restavam. Fostes vós, que provavelmente nem me ledes, os culpados de quase tudo. E eu definho. Limito-me a definhar nesta miserável terra de ninguém. Mais não faço que deixar correr o sangue, de punhos bem fechados e dentes bem cerrados. Podeis chamar covarde ao homem que se deixa derrotar? Mesmo que o inimigo seja invisível?

E às pequenas coisas que vão atenuando, ou adiando o inevitável, perco-lhes o rasto mais depressa que um faminto devora um naco de pão.

A vontade é conhecida há demasiado tempo… Tem faltado a coragem, somente a coragem.

Não vejais isto como um pedido de auxílio… É apenas mais um desabafo, do homem que já nem para gritar tem forças… Do ser humano que perdeu, definitivamente, a noção do que é sê-lo, na maioria dos mais elementares sentidos que possais atribuir à expressão…


Oh, spread your wings, there is more than this darkness... Open your eyes, the horizon has no end. You can see forever, you can know all time, you can live forever...

Paz, Poeta e Pombas


A Paz viajou em busca da silêncio

Sitiou Berlim
Abdicou em Londres
A Paz saltou dos olhos do poeta
Atacada de psicose maníaco-depressiva

Foi nessa altura que as pombas
Solicitaram nas agências as tarifas
Mas não viram mais o poeta
Que gozava na Suiça
Duma licença graciosa

A Paz saiu aos saltos para a rua
Comeu mostarda
Bebeu sangria
A Paz sentou-se em cima duma grua
Atacada de astenia

Foi nessa altura que as pombas
Solicitaram nas agências as tarifas
Mas não viram mais o poeta
Que gozava na Suiça
Duma licença graciosa*


*Poema/canção (quase absurda, de tão excelente) do mais genial de todos os compositores/intérpretes que este país já conheceu, o saudoso José Afonso. Para variar um pouco...

Decomposição

(rotten wood, by sonny89, deviantart.com)



Estalarão as bombas, nas intrépidas (porém moribundas) terras de ninguém. Dos estilhaços voarão limalhas de cetim queimado, outrora belo e resplandecente, que se lhes cravarão nos cérebros como que das mais impiedosas balas se tratassem.
É dia das bruxas, pensa. Nada do que possa fazer deve ser levado a sério.

No mais pérfido negrume instalado entre os seus pés e a terra que teimava pisar, já não se via vida. Já nem as ervas daninhas ousavam nascer ali, elas que até se propagam no meio da podridão dos mais desprezíveis despojos de tudo o que um dia foi vivo. Já nem elas se ambientavam, perante aquela espécie de nada em forma de existência patética que teimava em deixar-se estar, que teimava em ir estando sem que ela própria percebesse o porquê de tal atitude.

O corpo há-de ceder um dia, é certo. Quando a pancada for suficientemente forte para partir, quando a lâmina estiver suficientemente afiada para rasgar a carne, ou quando o interminável abismo que viu nos tais sonhos deixar de ser, apenas, um pesadelo... Porque todos os processos têm um fim, aquele que iniciou há mais de dois anos e contempla tão somente a auto-destruição, não será excepção.

A máquina foi programada, e o software original foi destruido antes que alguém conseguisse obter a sua cópia, ou sequer ter tido oportunidade para o crackear. Ao contrário do que acontece nos filmes, esta bomba não pode ser desactivada... Simplesmente, porque o seu núcleo é demasiado complexo para que alguém consiga, pelo menos, aproximar-se da solução para a tragédia inevitável, prevista aquando da sua criação...


All emotion is consumed by an inner silence, All grief is unassuaged by disconsulate tears. I want for nothing, I live for nothing, I am waiting to die but I am afraid of dying...