Even... More?

(Unwithered, by Winterregen, deviantart.com)



Como se fosse um mero naco de carne vezes sem conta cortado, martelado, temperado e retemperado antes de ao refogado final ser lançado. A panela estava quente, sabia-o. Trucidava-lhe o cérebro, qual pastilha mastigada, a ideia de que afinal viver nunca haveria de passar de uma mera e utópica ilusão.

Enxames de mentiras descabidas, disparadas ao vento (ainda sereno), como que de palas para os olhos cegos pela verdade dos factos se tratassem. "Não podes fazê-lo!" ... Ansiava pelo momento em que iria por fim ser capaz de gritar-lho, a plenos pulmões, seguro de que a sua condição actual não seria mais sustentável pela infâmia, pela sem-vergonhice de quem outrora se dizia rei de todo o bem, da suprema, absoluta e descomprometida VERDADE.

Não passava de um zé-ninguém, sabia-o... Mais um falhado no meio de tantos outros que nunca são notícia por motivo algum. Mas era, acima de tudo, verdadeiro. E assim haveria de morrer, nem que fosse para provar a quem um dia o tentou iludir, convencendo-o que a mentira supera a verdade a qualquer custo, que quem estava errado não era, de todo, ele...


I'm lying on a stretcher, they're lyring to my face... There's no-one left to help me, I'm just a waste of space...

My Ashes


All the things that I needed
And wasted my chances
I have found myself wanting

When my mother and father
Gave me their problems
I accepted them all

Nothing ever expected
I was rejected
But I came back for more

And my ashes drift beneath the silver sky
Where a boy rides on a bike but never smiles
And my ashes fall over all the things we said
On a box of photographs under the bed

I will stay in my own world
Under the covers
I will feel safe inside

A kiss that will burn me
And cure me of dreaming
I was always returning

And my ashes find a way beyond the fog
And return to save the child that I forgot

And my ashes fade among the things unseen
And a dream plays in reverse on piano keys

And my ashes drop upon a park in Wales
Never-ending clouds of rain, and distant sails...*


*(Steven Wilson/Richard Barbieri, My Ashes, 2007)

Unsound Wombs

(ruins ii, by nareia, deviantart.com)


Como que uma corrida desenfreada, encetada por alguém com fome em busca de um naco de pão - passavam aqueles dias quentes, sequiosos, todos iguais, iguais ao que sempre foram desde que se havia ido.

Queimava-lhe a pele quase tanto como a alma, a pontos de a sentir estalar, aquele insuportável sol que teimava em cegá-lo como que castigando-o pela sua própria incapacidade de se proteger, contra todas as radiações nocivas que à vida lhe chegavam insistentes, quase nauseabundas.
Era um castigo brando, ainda assim. Se da incapacidade de discernir entre os que por bem vinham e aqueles que só o sangue lhe pretendiam sugar, nenhum outro mal surgisse, considerar-se-ia "o homem mais afortunado do mundo".

Mas não...

Nem colocando-se à sombra deixava de se sentir queimado... E só então percebeu que afinal, não era do sol que devia proteger-se, pois não era ele de todo responsável pela intensa dor que sentia.
Seriam, então, outros astros... Estes, bem mundanos, racionais e responsáveis pelos seus actos. Era a mentira descarada, constante e persistente. Era o sinismo, e a inqualificável "cara de pau" da parte de quem nunca o fora até então.

Pela primeira vez na história, alguém que sempre odiou essa tal igreja e todos os seus desígnios e pregões, conseguia enumerar, um atrás do outro, "pecados mortais"! Via-se obrigado a concordar que aqueles que estavam a ser cometidos, não em ofensa a um deus, mas sim a algo infinitamente superior, conduziriam na certa, à destruição total dos fraquíssimos alicerces que restavam, de uma construção que deveria ter sido abortada antes sequer de passar ao projecto.

Uma das partes envolvidas estaria, decerto, atacada por uma insanidade quase psicótica, pois era essa a única explicação plausível para o que estava a acontecer. E a única dúvida que lhe restava, no meio de tudo aquilo, era simples: qual delas seria? ...


I don't know whose side I'm on... I don't think that I belong round here. If I left the stage, would that be wrong?