Uma Paixão

Visita-me enquanto não
envelheçotoma estas palavras cheias de medo e
surpreende-mecom teu rosto de Modigliani suicidadotenho
uma varanda ampla cheia de malvase o marulhar das
noites povoadas de peixes voadoresvemver-me
antes que a bruma contamine os alicercesas pedras
nacaradas deste vulcão a lava do desejosubindo à boca
sulfurosa dos espelhosvemantes que desperte em
mim o gritode alguma terna Jeanne Hébuterne a
paixãoderrama-se quando tua ausência se prende às veiasprontas
a esvaziarem-se do rubro ouroperco-te no sono
das marítimas paisagensestas feridas de barro e
quartzoos olhos escancarados para a infindável
águavemcom teu sabor de açúcar queimado em redor da
noitesonhar perto do coração que não sabe como
tocar-te.

(Al Berto)

Soul Reaver

(Imagem: Link)


Pensava ser capaz de apaziguar até o mais sobressaltado dos espíritos, mas percebia-se nas entrelinhas, que os seus pseudo-poderes já o haviam abandonado algures no tempo, sem que disso se apercebesse até ser tarde demais.

Em boa verdade, seria sempre tarde demais, a partir do momento em que da sua acção calmante já não pudessem beber os que dela mais precisassem, e no caso concreto, aquela que de todas sobressaiu como um pedaço de diamante à deriva num mar de lodo em dia de Verão, Verão quente como a alma inquieta do tal diamante em bruto que temia ser lapidado pelas mãos do ultimo dos artesãos, do último crente em terra de cépticos... Era dele que queria fugir a qualquer custo, por mais que a sua vontade fosse exactamente o contrário, por mais que...

Bateu com a cabeça na parede mais de cem vezes, esperançoso que da dor física resultasse uma ideia brilhante capaz de o conduzir à solução do puzzle mais complexo que alguma vez se propora montar. Mas nada, a resposta era o vazio, e a vontade de gritar enlouquecia-o por já não ter boca ou língua capazes de reproduzir o volume correcto do som da maior frustração da história da sua (in)existência.

Por hora ainda medita, o incauto lutador que se recusa a matar sonhos - ele não tem culpa, já devias saber que assim nasceu e assim partirá, por mais que te esforces não conseguirás convencê-lo de que os (teus) raios de sol não são capazes de o aquecer, pois é precisamente desse calor que ele tem vivido nas últimas semanas.

Serás mesmo capaz de lhe apagar a luz, sabendo que à noite ele morre sozinho, na falta de quem lhe agarre a mão e o deixe sonhar?

...but what can I say now?
it couldn't be more wrong
cos there's no one there
unmistakably lost and without a care
did we lose all the love that we could have shared
and its wearing me down
and its turning me round
and I can't find a way
now to find it out
where are you when I need you...
are you there?...

Sadness... Sadness




...Better times are moving up ahead
And all sorrow is gone for good
Hey my girl, why don’t you just let it flow
All this time I tried to figure out
Just what it takes to live on your cloud
yeah my love, I guess I misunderstood
When you said; just hold on a second here...

Possibly Maybe

(Imagem: Link)



Foi por ter acreditado sempre na exequibilidade do impossível, que cheguei até aqui.

E tentas agora convencer-me de que são amargos negrumes, aquilo que a mim me parecem ser os raios de sol mais brilhantes que algum dia existiram à face da (minha) terra?

Trevas vi eu, minha querida. Vejo-as, todos os dias, tão perto de mim que quase me impedem de respirar, quanto mais de alumiar o meu próprio caminho...

Estou cansado.

Cansado de correr em direcção a uma meta imaginária que só se afasta cada vez mais, à medida que dela me vou aproximando...

Já não tenho, no meu cemitério privado, espaço suficiente para enterrar mais sonhos. Por lá moram já tantos, que era capaz de formar um exército de zombies suficientemente grande para tomar de assalto o planeta, e reduzi-lo a cinzas num piscar de olhos...

Para mim já chega.

E sei que para ti também, ainda que jamais o vás admitir.

Permite-me apenas, que te acenda novamente.

A rampa de lançamento é já ali ao lado. Se olhares atentamente, através da janela do teu coração, encontrá-la-às facilmente, pois sempre soubeste onde estava.

No foguetão de ilusões que nos levará aos confins dos sonhos, estou já pronto a descolar. Mas não tenhas pressa, os motores ainda estão a aquecer, e tudo leva o seu tempo. Quando estiveres preparada, é só vestires o teu fato e subires a bordo.

Quanto ao resto, não precisas de te preocupar. Eu sempre soube como pilotar a máquina, apenas ainda não havia encontrado a chave... (como poderia imaginar que eras tu quem a tinha?)...

Each night when the day is through, I don't ask much... I just want you
.

Hey You



Hey you, don't help them to bury the light... Don't give in without a fight! ...
Hey you, would you help me to carry the stone? Open your heart, I'm coming home...

Someone That Cannot... Love?

(Imagem: Link)


Pudesse eu deixar de escrever sobre o que nunca tive, e escrever-te-ia a ti, impressa a carvão em todo o esplendor das tuas cores, a ti.

És o esboço de tantos sonhos diferentes, que quase te perdes nas densas brumas de um imaginário tão fértil que assustador, em toda a extensão da demência do seu criador.

Fosses um livro, e não caberiam nas tuas páginas, palavras suficientes para descrever o quão admirável me parece o mundo, sempre que da simplicidade dos teus disparatados relatos existenciais subtraio a complexidade de uma alma perdida, temerosa quiçá, consciente das limitações inerentes à mágoa que nunca foi superada, ou ao vazio jamais preenchido que teimosamente procuras esconder, como se fosse possível... E logo de mim?

Soaram mais de mil vezes, os sinos da decadência que teimosamente chamaram por mim, como se eu fosse, algum dia... Como se fosse possível arrancar dos meus pés, as toneladas de esperança que jamais me conseguiram roubar, e que me mantiveram preso ao chão mesmo quando as piores tempestades atingiram os alicerces da minha existência...

E o único desejo que me resta, é o de ser capaz de te impedir de cair no vazio de uma esperança inatingível, para que de uma vez por todas, acredites que nem só de preto e branco se vestem os sonhos...

Wishing you still don't wanna go tomorrow... And all the "tomorrows" still to come till the end of existence...

'74 '75




Grande sucesso de rádio, que ouvia quase diariamente durante a viagem que fazia de casa até à escola, durante todo o primeiro período do meu 5º ano... E como o tempo passa, meus amigos, parece que ainda ontem ouvi isto pela primeira vez. Nostalgia...

If Only She Could...

(Imagem: Link)



Ela chegou e quis embalá-lo com os seus relatos serenos, acerca de um futuro utópico numa espécie de realidade alternativa, onde todos os medos do homem não passavam de contos perdidos em livros de ficção que já ninguém lia.

Era uma melodia demasiado perfeita, para aquilo a que os seus maltratados sentidos estavam habituados...

E como brilhavam os olhos daquela mulher... Crente numa entidade superior que considerava benfeitora, a pontos de lhe permitir voar.
Ignorava a crueldade dos homens, e a perpétua ausência de amor nos corações daqueles que arruinavam as sociedades um pouco por todo o lado, tal não era para si mais do que uma insignificante amostra de produto estragado, que passara de validade. Como se fosse possível comparar o bicho homem a um qualquer condimento para um cozinhado... Como se as consequências da sua "ingestão" fossem de gravidade comparável a uma simples indigestão...

Teimava em fechar os olhos, sempre que ao sintonizar num canal de notícias um qualquer televisor, mais uma chacina era apresentada em todo o seu cruel esplendor, sem direito sequer, à bolinha vermelha, ao parental advisory, à tradicional censura a que o povo tão mal se habituou, ao longo do tempo...
Dizia ela, acreditar "que as coisas haveriam de melhorar no futuro, quando o ser humano tomasse consciência da beleza que existe no processo único que é viver".

Ela acreditava ser possível desenhar futuros, na terra onde todos os sonhos morreram... Queria descortinar vida no reino dos mortos, e por mais que se esforçasse, ele era impotente perante tamanha firmeza de ideias, perante a magnitude da beneficência de um coração demasiado puro e virgem para conseguir sobreviver à selva que é o mundo em que vivemos, e particularmente, ao tal bicho homem, esse predador implacável que jamais olhará a meios, para atingir fins.


She's just a dreamer, she dreams her life away... She's just a dreamer, who dreams of better days...

O Ultimo Recadinho

(Imagem: Link)



A melhor forma de acabar a noite? Percebendo duas coisas fundamentais: que ainda é possível ter conversas tremendamente agradáveis com pessoas especiais, online, através de programas de instant messaging; que os insultos baratos e infundados, provenientes de pessoas fúteis e vulgares, precisamente oriundas do mesmo universo (mas de categoria intelectual/humana tremendamente inferior), já não nos afectam.

É verdade! Finalmente evoluí... Não é irónico? No final, será dos humildes que rezará a história, meus amigos.

No final, prevalecerão os silêncios sobre as bocas cheias de clichés inúteis. Triunfará o senso comum, sobre as pseudo-realidades ancoradas em alicerces de areia virtual, prevalecerá sempre, mas sempre, a astúcia dos vividos sobre a inocência dos que insanas maldades jamais conheceram...

... E foi esta a lacuna que preencheste, rainha dos loucos: forneceste-me o escudo de protecção final que me faltava, o ultimo ponto do meu colete anti-balas até agora desguarnecido pela minha inabalável fé na possibilidade de endireitar até o mais resistente dos que nasceram tortos. És a prova viva de que nem eu, nem ninguém, consegue remar contra uma maré enfurecida pelas vicissitudes de uma vida em rota de colisão com o mundo real...

Feliz de mim, que sou "um miúdo que nada sabe da vida".
Porque a saber o que tu julgas que sabes, minha querida... Preferia mil vezes estar morto, ou melhor, nem sequer ter nascido.

E como detesto bater em ceguinhos... Assim me despeço, até uma próxima, que no teu caso, é nunca mais. ;)

(NOT TO BE CONTINUED a.k.a. "THE END")

Have You Ever Seen The Rain?


Já... E tanta que, por este andar, irei mudar de cidade, de país, e de planeta! P*t*a que par** lá a chuva e mais quem a aumentou!

Contrastes

(Imagem: Link)



Insiste em não abandonar a minha face, aquele sorriso que tão depressa ilumina uma vida, como de um instante para o outro, provoca a ruína do mundo de alguém.
Serei porventura, o ultimo resistente da velha guarda dos pseudo-loucos que um dia nasceram para governar o mundo, mas mais não conseguiram senão auto-destruir-se, antes sequer de verem a luz do dia de um amanhã que nunca chegou.

O ultimo espécimen, de uma geração de contrastantes, de visionários deslocados no tempo e no espaço, que nasceram antes, ou muito depois, da verdadeira época em que desejariam ter vivido. Das personalidades incompreendidas, díspares e difusas, das pseudo-inteligências bíblicas que jamais puderam ser úteis à sociedade, pois bem vistas as coisas, todos os recursos na sua criação foram direccionados de uma forma tão errada, que os limitaram, de uma forma inexplicável. Como o escritor que não tem mãos, caneta, tinta, papel, ou voz para gritar a uma qualquer máquina, tudo aquilo que deseja dizer ao mundo, ao mesmo mundo que o rejeita por ser diferente, ainda que especial, ainda que único, ainda que...

Não deixarei contudo, que me reduzam a cinzas, sem antes ter provado a todos os que anunciaram a minha morte, que estou suficientemente vivo para contrariar todas as probabilidades. Suficientemente forte para derrubar os muros que me ergueram à frente, para esmurrar a face dos que troçaram de mim sem razão alguma, para me erguer da cova que teimaram em cavar por mim, sem se aperceberem que eu apenas lhes dei quarenta e cinco minutos de avanço, num jogo que sempre controlei, apesar das goleadas a que estive sujeito.

Porquê?

Contrastes, meus amigos. Não fosse eu feito de contrastes, e detestaria ser "do contra"... Mas adora, esta alma renegada que naufragou no cabo das tormentas, e jamais perdeu a esperança de aprender a nadar. Jamais...

You can stand me up at the gates of hell... But I won't back down. No, I won't back down!

Até breve.