The Undeniable Nothingness

(entrance into nothingness, by henriklj, deviantart.com)



Era como um fruto esquecido no topo de uma árvore, no local mais inacessível onde permanecia, balançando por vezes ao som dos trovões, lentamente, apodrecendo... Lentamente.
Os dias eram todos iguais, nada de novo além do tempo. O mais que fazia, era ouvir... Ouvia essencialmente o silêncio que envolvia o seu mundo. E ria, ele que nunca ouvira nada nem ninguém, via-se agora na contingência de nada mais lhe restar senão ouvir o próprio silêncio da sua exanimação.

Quando ela chegou, do alto da sua incomensurável ingenuidade, gritou-lhe: "Essa árvore está morta! Porque lá permaneces, sabendo que dela mais proveito não tirarás, senão a morte?"

Cicerone da sua própria mente desde sempre, tentou uma vez mais explicar-lhe o que era na realidade, transmitir-lhe a mais profunda essência da sua inexistência espiritual, quiçá terrena (essa mais próxima que nunca).
"Ainda que o desejasses com todas as tuas forças, certas coisas jamais mudam... E se me pedes para não morrer pelo passado, eu te suplico, que me deixes fazê-lo, pelo futuro que esse mesmo passado me impede de construir..." - Orelhas moucas, foi o que ela fez como sempre.

E se foi este o caminho que escolheu, nada mais lhe restava senão apodrecer com ele, ainda que ao contrário pudesse sempre escapar a um fim evitável, a tempo de ser feliz de outra forma...

E era essa esperança que o fazia adiar a sua queda final, pois não queria, uma vez mais, apagar do rosto de alguém que amava o sorriso que sempre o havia contagiado... Ainda que isso não fosse suficiente para impedir... o fim.

Flown Memories...

(Hand, by Bay TEK, deviantart.com)



Flashbacks
- intermitentes, como o pingar de uma torneira mal apertada numa noite gélida de inverno. Era tudo o que restava, no que a boas recordações (passadas) dizia respeito, naquele cérebro embatucado, e também ele, a espaços, intermitente.

Recordações de tempos em que a vida em si não era um fardo intransportável, de tempos em que, apesar de tudo, foi feliz. Era pelo menos essa a percepção que tinha, presentemente - de que nesses tempos passados, de uma forma ou de outra, ele conseguía de facto ultrapassar obstáculos, apreciando dia após dia, o facto de continuar vivo.

E no dia em que tudo se descontrolou, ele próprio se afastou das pessoas que poderiam ter-lhe aparado as quedas... Uma, e outra, e mais outra vez.
Fê-lo, por ter tomado consciência do facto de que ninguém é tão forte, a pontos de aguentar tais impactos, por mais que essas mesmas pessoas afirmassem o contrário. Não se sentiu capaz de tamanha crueldade para com elas, preferindo ao invés isolar-se do mundo, no seu escuro e impenetrável lugarejo.

Hoje é um monstro - reflexo e consequência das suas escolhas. E são tantas as histórias, tantas as palavras que poderia aqui colocar, dançando ante os vossos olhos...
Talvez um dia todos vós conheçais a história, deste personagem moribundo que teima em não se deixar ir - ainda que tal não feche, em definitivo, a sua presença na vida, e no pensamento, de quem um dia teve o infortúnio de com ele se ter cruzado...

A Place In The Dirt


We are damned and we are dead
all god's children to be sent
to our perfect place in the sun
and in the dirt

There's a windshield in my heart
we are bugs so smeared and scarred
and could you stop the meat from thinking
before I swallow all of it,
could you please?

Put me in the motorcade
put me in the death parade
dress me up and take me
dress me up and make me
your dying god

angels with needles
poked through our eyes
let the ugly light
of the world in
we were no longer blind
we were no longer blind

Put me in the motorcade
put me in the death parade
dress me up and take me
dress me up and make me
your dying god

Now we hold the "ugly head"
the Mary-whore is at the bed
They've cast the shadow of our perfect death
in the sun and in the dirt.*



E foi exactamente isto que me veio à memória, hoje... Vá-se lá saber porquê...


* Marilyn Manson, "A Place In The Dirt" (excerpt)

Moment Of... Eternity

(swim in the hell, by smth fresh, deviantart.com)



"Renasce das cinzas, como a Fénix...!"... É isto que ouço e leio quase todos os dias, dito ou escrito por amigos, companheiros de escrita ou simplesmente por quem partilha ou compreende uma, ou mais, formas da tal dor (inevitavelmente fatal) que consome esta mente e este corpo cada vez mais frágeis...
É meu dever agradecer a todos vocês a preocupação/esperança em mim depositada... Ainda que não possa, de todo, partilhar dessa vossa utopia, por mais que desejasse fazê-lo.
Nos tais sonhos que um dia tive (já referidos em posts anteriores), nada mais existe depois do fim... E se eu não sou ninguém para ver além do que a minha vista alcança, paralelamente, ninguém me poderá garantir que aquilo que eu vi, durante aquelas noites, é algo mais que não o prenúncio de um desfecho inevitável...

Fica ainda a promessa de regressar em força, na ínfima possibilidade de a razão estar do vosso e não do meu lado, sendo eu mesmo capaz de renascer... das cinzas...