July 22nd, 2008

(Imagem: Link)


Uma espécie de dor inexplicável, incontrolável e incontornável, que extravasa os limites do exíguo espaço reservado à alma, propaga-se por todos os poros de um corpo miseravelmente inerte e atinge, sem apelo nem agravo, proporções impensáveis.

Submerso num copo de álcool, tenta evitar que a maligna e sobrenatural negação dele se apodere uma vez mais, concentrando em si as partículas de energia positiva que quem o ama lhe quer transmitir.

Desculpai-o, vós que o quereis ver feliz. A tentação do abismo é demasiado irresistível, por esta hora. Não tenteis agarrá-lo, ele há-de erguer-se como um homem, se depois da queda existir, ainda, réstia de vida que lhe sopre. O machado de guerra será enterrado, no dia em que o vento lhe trouxer de presente, o maior responsável pela sua desgraça, para que ele possa trucidar, espremer e esmagar, o maior verme que a natureza ao mundo ousou ofertar.

This is my gift for you, my dear father. Being nothing, feeling nothing, bloodthirsty insensitive motherfucker.

Oh, and by the way... Happy birthday to me, happy fuckin' birthday, nothingman.


Delírios...


Na forma de um coração
De um qualquer povo que chore
E sofra sem ter nunca vivido
D’alma de um sofredor vendido
Por dois tostões arrependido
De mais não ter sido senão dor
O que em tempos teve a cor
Brilhante do sol que nasce
Das mãos de um sonhador.

Pensou ser de abrigo, o porto
Em que um dia atracou, sereno
Longínquo como o passado
Inesquecível, como a ferida
Por ela aberta e jamais esquecida
Impotentes palavras perante o mar
De precipícios a seus pés,
Afinal, demasiado feridos, queimados
Enrugados e temerosos, preparados
Ofertados à terra, inolvidável,
E por ela, para sempre, sugados.

Capítulo II - A Árvore


(Imagem: Link)



Derivações egocêntricas de um destino parcialmente comum: o que são eles, além de mim? Que será de vocês, depois de mim?

Tempestade cerebral inusitadamente provocada por questões sem importância. Porquê? Sinais dos tempos, e dos estados. Definham, as mentes, aprisionadas pelo seu próprio circo de feras mansas que um dia ousaram prender.
Era tão livre como o escaravelho que vive do proveito tirado pela quotidiana tarefa de mergulhar nos excrementos alheios. Aliás, rejubilava todos os dias, sempre que se olhava ao espelho e concluía, "sou um escaravelho feliz".

Senhora de preto, dói-lhe a alma vazia por já não ser capaz de a preencher com a essência de toda a minha ausência? Tem bom remédio. Edifique um teatro e nele represente, até ser capaz de fingir na perfeição, alguém que, não sendo, seja melhor que tudo aquilo que algum dia foi.

Porque eu sou a árvore que em terra fértil deu frutos. Foi a partir de mim que muito construístes, senão vejamos: não brotou dos meus ramos a essência de todas as desgraças que conhecestes nos últimos vinte e três anos? Sufocados pelo veneno poderoso da minha seiva, atraídos a mim como formigas ao açúcar, toda a vossa existência desfeita, sois agora o adubo que, em excesso, me há-de secar até à última ramificação.

Peço, apenas, que vos despacheis. O calor aperta e eu morro de frio, fui feito ao contrário do mundo e morrerei de pé como árvore, ainda que de rastos, como a larva que enterrou no solo a semente maldita que originou o fim dos mundos.