Estalarão as bombas, nas intrépidas (porém moribundas) terras de ninguém. Dos estilhaços voarão limalhas de cetim queimado, outrora belo e resplandecente, que se lhes cravarão nos cérebros como que das mais impiedosas balas se tratassem.
É dia das bruxas, pensa. Nada do que possa fazer deve ser levado a sério.
No mais pérfido negrume instalado entre os seus pés e a terra que teimava pisar, já não se via vida. Já nem as ervas daninhas ousavam nascer ali, elas que até se propagam no meio da podridão dos mais desprezíveis despojos de tudo o que um dia foi vivo. Já nem elas se ambientavam, perante aquela espécie de nada em forma de existência patética que teimava em deixar-se estar, que teimava em ir estando sem que ela própria percebesse o porquê de tal atitude.
O corpo há-de ceder um dia, é certo. Quando a pancada for suficientemente forte para partir, quando a lâmina estiver suficientemente afiada para rasgar a carne, ou quando o interminável abismo que viu nos tais sonhos deixar de ser, apenas, um pesadelo... Porque todos os processos têm um fim, aquele que iniciou há mais de dois anos e contempla tão somente a auto-destruição, não será excepção.
A máquina foi programada, e o software original foi destruido antes que alguém conseguisse obter a sua cópia, ou sequer ter tido oportunidade para o crackear. Ao contrário do que acontece nos filmes, esta bomba não pode ser desactivada... Simplesmente, porque o seu núcleo é demasiado complexo para que alguém consiga, pelo menos, aproximar-se da solução para a tragédia inevitável, prevista aquando da sua criação...
All emotion is consumed by an inner silence, All grief is unassuaged by disconsulate tears. I want for nothing, I live for nothing, I am waiting to die but I am afraid of dying...
2 comentários:
Texto bem conseguído, como sempre.
Se existe holocausto que podemos evitar, é aquele que mora por direito em cada um de nós...
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