(hidden death, by seabass901, deviantart.com)



A morte... Chegado do funeral de uma conhecida, recosto-me pensativo, enquanto escrevo (transmitir sentimentos através de palavras é um exercício deveras complexo, impossível talvez).

Caixão aberto e face descoberta, ei-la, de olhos semicerrados no seu leito de morte. Quase todos acabam assim um dia, despojados das suas vidas mais ou menos preenchidas. Não imagino como terá sido a daquela mulher - pela sua aparência tranquila diria que não sofreu muito, no momento da sua partida, que era também esperada. E quando assim é, quando as pessoas tomam consciência da sua inevitabilidade, o FIM deixa de ser temido, receado.

Sentado num recanto daquele templo católico (que me provoca sensações angustiantes, como uma força invisível que me empurra e me relembra que não é ali que eu pertenço), permiti-me voltar a fazer algo que (cada vez mais) me dá um prazer inexplicável. De olhos bem abertos, projectados no vazio, deixei de ouvir os choros e as orações, deixei de ver toda aquela gente, os santos, as paredes... Como um trip. Por breves instantes o meu espírito voa, por lugares que eu não conheço (e que contudo visualizo mentalmente, com a maior das clarividências) - e fico... digamos...extasiado. Durante breves segundos, sou feliz... Insanidade?
Depois o regresso à realidade - os choros e as orações, a marcha do costume e o corpo à terra.

Quando eu me for, não quero lágrimas, orações, rituais, flores ou velas. Não quero o meu corpo devorado por larvas, sete palmos abaixo. Quero ser, simplesmente, pó... que as minhas cinzas sejam espalhadas ao vento...

...e que de mim restem, apenas, memórias.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei o que dizer... incrivel nao?? pois bem... nao gosto de ouvir-t falar da morte no sentido em que te queres... bem digamos... passar para o outro lado... por mais dura que seja a vida e angustiante foi algo que um dia nos ofereceram e deveriamos estar gratos por isso... nao quero com isto criticar-t... simplesmente nao gosto da forma como tu te "derrubas"... mas quem sou eu para gostar ou nao do que tu dizes sobre ti?? enfim... so me apeteceu falar mais uma vez... desculpa!

Claudia

Joana Lima disse...

A Morte é natural... faz parte. Quer dizer, para mim, paz. Não quero ser mal compreendida, não tou a mandar ninguém atirar-se duma ponte abaixo. Sei que certas pessoas me percebem... A morte de alguém - digamos claramente, o suicidio - nunca é por ninguém se não pela própria pessoa, alguém que deseja certamente um estado de Não-Ser melhor que a vida.
Quando eu me for... Não quero nada. Quero ir e pronto.