Cinco horas de uma manhã qualquer, e ali estava ele, cansado e doente, em mais uma das suas inúmeras e vãs tentativas de afugentar o medo, da loucura, o desespero, da solidão.
O gélido cimento do chão, fiel servidor de aconchego aos inúmeros rascunhos que, amarrotados, por ali se amontoavam, era a prova de que já se havia esgotado a essência do seu coração, pois se já nem era capaz de escrever, o que mais lhe restava naquele mundo cruel?
Ecoavam pelos cantos, melodias natalícias que os "outros" teimavam em entoar, como que isso o fizesse feliz... Como se o Natal significasse outra coisa que não "o pior dia do ano", aquele em que o mundo fazia questão de recordar, aos velhos lobos solitários como ele, o quão miseráveis eram as suas vidas, o quão insignificante era a existência, quando não existia sequer alguém a quem desejar "Boas Festas"...
Ele, que sempre fora um sobrevivente, via-se agora condenado pelas dores, que na alma como nos dedos, o impediam de continuar, a escrever, a viver...
Olhou de soslaio para o mais que gasto calendário que trazia no bolso. Ele, que nunca perdera a noção dos dias, quis certificar-se de que não se havia enganado.
Mesmo que tivesse, o bulício que se instalara nas ruas como nos lares, os risos e os gritos de felicidade que as crianças não conseguiam conter, não enganavam ninguém: havia chegado "O" dia.
Havia planeado, ao longo de todo o ano, a sua própria festa de Natal.
Liberto de toda a tensão que um tal momento suporia, sorriu uma última vez, e fechando os olhos, permitiu-se a si mesmo um último pensamento: crianças, a brincar, felizes como ele nunca havia sido, e os seus pais, também eles satisfeitos, a contemplarem a beleza que existe na vida, através delas, dos seus olhos puros e inocentes que, esperava, jamais viessem a conhecer as misérias do "mundo real"...
O sol, incrivelmente quente e brilhante para um dia de Inverno, banhou-lhe a alma pela última vez.
O som de um disparo só passa despercebido quando as pessoas estão demasiado ocupadas para o ouvir... Quando o frenesim típico desta quadra cega e ensurdece o mundo.
Ele sabia-o.
E até hoje, nunca ninguém se preocupou em saber, por que motivo escolheu aquele homem, o dia de Natal para se despedir da vida.
Em boa verdade, ele não tinha uma única pessoa que pudesse sentir a sua falta... E assim sendo, tudo o que resta da sua passagem pelas nossas vidas, é precisamente este conto de Natal, pronto para ser lido por todos aqueles que encaram o mundo como sendo um paraíso, e a vida, como uma brincadeira de crianças... Crescidas.
Para todos eles...
"Feliz Natal".
O gélido cimento do chão, fiel servidor de aconchego aos inúmeros rascunhos que, amarrotados, por ali se amontoavam, era a prova de que já se havia esgotado a essência do seu coração, pois se já nem era capaz de escrever, o que mais lhe restava naquele mundo cruel?
Ecoavam pelos cantos, melodias natalícias que os "outros" teimavam em entoar, como que isso o fizesse feliz... Como se o Natal significasse outra coisa que não "o pior dia do ano", aquele em que o mundo fazia questão de recordar, aos velhos lobos solitários como ele, o quão miseráveis eram as suas vidas, o quão insignificante era a existência, quando não existia sequer alguém a quem desejar "Boas Festas"...
Ele, que sempre fora um sobrevivente, via-se agora condenado pelas dores, que na alma como nos dedos, o impediam de continuar, a escrever, a viver...
Olhou de soslaio para o mais que gasto calendário que trazia no bolso. Ele, que nunca perdera a noção dos dias, quis certificar-se de que não se havia enganado.
Mesmo que tivesse, o bulício que se instalara nas ruas como nos lares, os risos e os gritos de felicidade que as crianças não conseguiam conter, não enganavam ninguém: havia chegado "O" dia.
Havia planeado, ao longo de todo o ano, a sua própria festa de Natal.
Liberto de toda a tensão que um tal momento suporia, sorriu uma última vez, e fechando os olhos, permitiu-se a si mesmo um último pensamento: crianças, a brincar, felizes como ele nunca havia sido, e os seus pais, também eles satisfeitos, a contemplarem a beleza que existe na vida, através delas, dos seus olhos puros e inocentes que, esperava, jamais viessem a conhecer as misérias do "mundo real"...
O sol, incrivelmente quente e brilhante para um dia de Inverno, banhou-lhe a alma pela última vez.
O som de um disparo só passa despercebido quando as pessoas estão demasiado ocupadas para o ouvir... Quando o frenesim típico desta quadra cega e ensurdece o mundo.
Ele sabia-o.
E até hoje, nunca ninguém se preocupou em saber, por que motivo escolheu aquele homem, o dia de Natal para se despedir da vida.
Em boa verdade, ele não tinha uma única pessoa que pudesse sentir a sua falta... E assim sendo, tudo o que resta da sua passagem pelas nossas vidas, é precisamente este conto de Natal, pronto para ser lido por todos aqueles que encaram o mundo como sendo um paraíso, e a vida, como uma brincadeira de crianças... Crescidas.
Para todos eles...
"Feliz Natal".
(Texto escrito para a Fábrica de Letras.)
8 comentários:
Excelente.Transmite parte do que penso do Natal, o dia do ano mais triste para quem está só e quem está só não o está por o merecer. Quantas vezes é o mais "Humano" que assim acaba. Porquê? Porque quem é humano não quer, nunca, perder a paz por banalidades, muito menos por disputas materiais. E, assim, põe-se de lado de uma sociedade que não dá lugar a quem não seja oportunista, hipocrita and so on...Uma história muito bem contada, que faz pensar, quem passa por um ano sem olhar para o seu semelhante.
Muito bom o texto...realmente andamos aqui tds intusiasmados com a quadra natalicia e muitas vezes nem nos apercebemos do sofrimento das pessoas que estão sós...o pior é k so pensamos nestas coisas quando chega o natal, porque será?!?!
bjs fica bem e já agora Bom Natal
Pandora Salvado
Ai ai senhor campas que texto tão triste. Faz lembrar aquela história da menina dos fósforos!!!
Mau, mau, com um template tão bonito e a escrever histórias tão triste...como é possível???
Brown Eyes, that's my point.
Pandora, obrigado... :)
Menina Naninha, já sabe como é, com o campas é só duques e cenas tristes!
E depois, que piada tinha escrever um textinho todo pipi "para inglês ver"?
Há que explorar as várias interpretações que se podem fazer desta quadra, e esta, para muita gente, faz o maior dos sentidos.
E não se esqueça que eu ainda estou muito chocado com o que li lá na tua morada virtual! O chá de giestas não fez efeito, vou experimentar agora com agulhas de pinheiro, dizem as más línguas que é bom para...
xD
Não, não, mas o texto tava fantastico, tava era extremamente triste!!!!
Quer dizer eu raramente li aqui alguma coisa não triste!!!Mas pronto isso são outras histórias...
Ahhhhh é verdade, e não sei como é que o senhor campas ainda pode estar chocado com o pequenino texto q escrevi, coisa tão inocente e pura não há em lado nenhum!!!
Portanto e segundo o que ouvi dizer, se o senhor campas (ou devo dizer menino??) é tão puro e casto não devia andar a tomar chá de agulhas de pinheiro porque caso contrario lá se vai a pureza!!!!
Menina Naninha, menina Naninha... A menina dá cabo de mim!
Esta miserável latrina da blogosfera não era a mesma sem os seus comentários... O idoso senhor campas, pessoa de nobres vontades e espiritual pureza, não pode ler dessas coisas que a menina escreve por lá! Senão engasga-se com os chás calmantes, e ainda vai ter um piripaque... Depois não escreve coisas tristes nem alegres, vai é plantar batatas lá prós terrenos do tio LuLu!
E a culpada é a menina, muito culpadinha mesmo. :D
Muito triste.
Este tema da Fábrica mostrou que mais de (talvez) 90% das pessoas tem uma visão muito triste e/ou negativa do Natal.
=\
Muito bonito. ;)
Gingerbread Girl,
Sinais dos tempos... I guess.
Obrigado pela visita, e volta sempre. :)
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