O Pequeno Demiurgo


Escrevo
barco e uma quilha fende o vastíssimo mar
e as arvores crescem dos espaços enevoados
entre olhar e olhar movem-se
animais presos á terra com suas plumagens de ferro
e de orvalho de ouro quando a lua se eclipsa
comunicando-lhes o cio e a nómada alegria de viver

penso outono ou inverno
e o lume resinoso dos pinhais escorre sobre o rosto
sobre o corpo em tímidos gestos
eis o tempo
do capricórnio reduzido ao esconderijo tatuado
na asa mineral da ave em pleno voo e digo nuvens
relâmpago, erva, águas
homem
movimento do susto, oceanos, sal, exaustos corpos
transumantes paixões digo
e surge , irrompe, escorre, ergue-se, move-se, vive
morre
mas não julguem ser trabalho simples nomear
arrumar e desordenar o mundo

para que não se apague esta trémula escrita
preciso do sonho e do pesadelo
da proximidade vertiginosa dos espelhos e
de pernoitar no fundo de mim com as mãos sujas
pelo árduo trabalho de construir os gestos exactos
da alegria que por descuido deus abandonou ao cansaço
no fim do sétimo dia.


(Al Berto)

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