Eu queria mesmo falar. Coisas, sei lá, sobre pessoas, essencialmente. Contar histórias que eu conheço, no tom mordaz e irónico que tão bem me caracteriza enquanto pessoa, pelo menos, a avaliar por aquilo que os outros dizem... Mas não posso.
E não posso porque, em abono da verdade, eu não sou ninguém para o fazer. Afinal, eu sou apenas um menino mimado que nunca aprendeu a viver. Ou isso, ou a eterna incompreensão em dois actos (do mundo perante mim, e minha perante o mundo e as pessoas que me rodeiam) não passa de uma invenção minha. Mas se assim fosse, porque é que eu sofreria desta forma? Alguém é capaz de me explicar o porquê de eu me sentir tão miserável, em cerca de 99.9 por cento do tempo útil de um dia? Todos os dias?
Que não pertenço aqui, sempre o soube. Mas... Onde pertenço afinal? Será que eu pertenço a lugar algum? Não conheço esse sítio, se é que ele existe. Como também não conheço as pessoas que nele habitam, para que, mediante esse termo de comparação, pudesse aquilatar das diferenças e resolver, desse modo, a dúvida que acima resumi, entre parêntesis.
A minha vida será sempre um mistério, contudo. Para mim próprio, primeiramente, pois jamais conseguirei perceber como foi possível a mãe natureza ter permitido o meu nascimento. A bem do equilíbrio de todos, esse era um erro que não poderia ter sido cometido.
E depois, para os outros, que me são próximos, e jamais conseguirão entender os meus próprios porquês. Afinal, eu também não entendo os deles, e reside porventura aí o factor de cisão irreversível que transforma num pesadelo toda e qualquer espécie de tentativa de relacionamento interpessoal entre mim e o mundo...
Oh to sail away, to sandy lands and other days... Oh to touch the dream, hides inside and never seen...