Stone (Im)maculated

(Imagem: Link)


Viera e indagara um imperceptível "como estás?" por detrás daquele véu de timidez que teimava em absorver-lhe a voz, e o ser.

Era um pássaro castrado que não podia voar; um ser pálido e bacoco, vítima de um tempo implacável, e de si próprio.

Arrastara as asas pelo chão, tempo suficiente para já não ter penas.

Eram agora dois pedaços de carne nua, ensanguentados e órfãos de tudo aquilo que um dia os definiu. Eram músculos flácidos e envelhecidos, desprovidos de força, retalhos de uma vida perdida em prol de ninguém.

Quis acreditar que podia fazê-las bater de novo...

Mas o coração estava definitivamente comprometido; Já não bombeava sangue suficiente para que pudesse erguer-se do frio chão de tantos Invernos; Enregelado, era um corpo inerte votado para sempre aos caprichos do vento, e a mais do que isso não podia aspirar.

Resignara-se, por fim, à sua sorte. Afinal, outra não procurou... De que adiantava queixar-se?

Alimentava apenas, um derradeiro desejo: que os seus olhos se fechassem por fim, envoltos em resplendor: sem sofrimento, nem dor...


Sensus Catholicus

(Imagem: Link)


Os que acodem à podridão, insectos pestilentos que mãos não temos para sacudir da face, predadores também eles, insignificantes nesta selva minúscula que nos atola e vai sugando, sabe-se lá até onde...

Como podemos sobreviver, se máscaras não possuímos, se botas não nos protejam destes chãos mortais, quem julgamos ser para merecer a honra de persistir, contra todas as coisas?

Somos cães raivosos sedentos do sangue das ovelhas que nós próprios criámos.

Somos as larvas vorazes que devoram tudo o que não tem vida... Por lha termos tirado!

Assassinos cruéis, em nome de um deus menor. De uma mentira que inventámos para desculpar a nossa verdadeira natureza, cobarde e cruel, hipócrita e despida de razão, somos o mais fraco de todos os animais que povoam este minúsculo grão de areia num universo infinito.

Defeco no vosso deus. Chamo-vos tudo o que me vier à cabeça! Estúpidos imbecis, como ousais julgar-me por não crer na vossa triste invenção?

Serei macaco antes de crente. Dançarei por cima dos vossos faustosos túmulos, e de manguito cerrado em direcção ao céu que pensais esperar-vos, serei eternamente maldito, pois antes o mal encarnado, que a podre representação do bem que fingis ser nesta vida, ignóbeis candidatos à paz eterna!

áMEN!