Viera e indagara um imperceptível "como estás?" por detrás daquele véu de timidez que teimava em absorver-lhe a voz, e o ser.
Era um pássaro castrado que não podia voar; um ser pálido e bacoco, vítima de um tempo implacável, e de si próprio.
Arrastara as asas pelo chão, tempo suficiente para já não ter penas.
Eram agora dois pedaços de carne nua, ensanguentados e órfãos de tudo aquilo que um dia os definiu. Eram músculos flácidos e envelhecidos, desprovidos de força, retalhos de uma vida perdida em prol de ninguém.
Quis acreditar que podia fazê-las bater de novo...
Mas o coração estava definitivamente comprometido; Já não bombeava sangue suficiente para que pudesse erguer-se do frio chão de tantos Invernos; Enregelado, era um corpo inerte votado para sempre aos caprichos do vento, e a mais do que isso não podia aspirar.
Resignara-se, por fim, à sua sorte. Afinal, outra não procurou... De que adiantava queixar-se?
Alimentava apenas, um derradeiro desejo: que os seus olhos se fechassem por fim, envoltos em resplendor: sem sofrimento, nem dor...