(Des)Equilíbrio(s)

(Imagem: Link)


Quando se torna insuportável a única coisa que sempre nos confortou... Sabemos ter sido derrubada a última das barreiras capazes de impedir que a insanidade se apodere de nós, por fim.

O silêncio.

Consome-me agora como as larvas os corpos na terra ímpia de ninguém.

Sou uma mera marioneta, perante as forças do mal que de mim se apoderam nos momentos críticos de desespero;

Um boneco de madeira subjugado pela imensidão de uma força invisível que o toma nas mãos e lhe suga a alma; olhos vazios perante os horrores ditados pelas mais simples leis da natureza.

Fosse o abismo uma simples equação, e decerto ter-me-iam dito como se resolve;

Fosse a luz um objectivo tangível a qualquer mortal, e o mundo seria perfeito.

Nunca o será.

Resta-nos tentar encontrar conforto nessa lógica arcaica, do equilíbrio natural de todas as coisas.

Esperar, calmamente, pelo dia em que seremos capazes de lhe esticar o dedo do meio, e decidir-mo-nos, por fim, a quebrá-lo, a desequilibrar a balança para o lado da (nossa) justiça, a dizer: adeus...

I've been waiting for a guide to come and take me by the hand,
Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man?

7 comentários:

Nana disse...

Bem, ao menos fez-te voltar a escrever!

Maria do Sol disse...

Insuportável é não suportar o insuportável, porque quando julgamos ter alargado a mente até ao limite do suportável, descobrimos que afinal nem a meio estamos da nossa capacidade de suportar coisas insuportáveis. Nesses momentos faltam muitos mais dedos do meio para levantar em todas as direcções...porque nós suportamos a vida.
Beijo

Brown Eyes disse...

Dizer adeus não custa tanto como parece ao principio e com o tempo descobriremos que há muito o devíamos ter feito. Todas as relações devem ser analisadas e quando não há equilíbrio nas atitudes há que pôr fim. Uma relação desequilibrada faz alguém sofrer e todos temos direito a ser felizes.

POETAROMASI disse...

Amiga, deixo aqui um poema meu

CORRO EM SENTIDO CONTRÁRIO
(Rogério Martins Simões)

Corro em sentido contrário
Desço o rio a pé, molhado à cintura
Quem me entende?
Quem me deita?
Quem me estende?
Quem me aceita?

Seco a cabeça no limiar da secura
Deixem correr o rio…
Que me entende!
Que me ajeita!
Que me estende!
Que me aceita!

Aceito o colo da ternura
Nado numa pista de cinza
Estou cansado
Das falsas partidas…
Prometidas
Incumpridas
Desgastadas
Ando aos recuos
Ao contrário das vistas…

Vistas as coisas, estamos nus…

O mundo é dos vestidos,
Compridos,
Rasgados
Comprimidos
Decotados
O mundo é dos modelos
Dos esbeltos e dos belos
Das farsas
Dos comparsas…

Tiraram-me as medidas…
Encurtaram as pistas…
Recuei
Minguei
Encontrei a loucura...

07-10-2005 18:24

(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.P. –
Processo n.º 2079/09

POETAROMASI disse...

Boa noite, amiga,
Fiquei impressionado – talvez o termo adequado seja abalado – com a solidão e a tristeza que embala o teu corpo. Impressionado estou com a arte de bem escrever e de nos “escancarares” a tua alma.
Há uns anos pensando eu estar na razão, como que a razão estivesse sempre do meu lado, escrevi um livro inteiro de poesia, dura e crua de revolta, visando alguns valores em que eu acredito e me suportam.
O meu filho, o Rogério Alexandre, nasceu em 1970 e quando tinha 18 meses deixou de andar. A cabecita tombava como se fosse um boneco, fizeram-lhe uma punção e o diagnóstico era cruel: encefalite. Por um qualquer milagre não morreu, nem ficou incapacitado, mas adveio uma epilepsia – o grande mal – e eu fiquei revoltado. (Sim é o Rogério Alexandre que talvez já conheças de nome e que agora vive no Brasil)
De falha, em falha, ruiu o meu casamento que foi sempre um fracasso… e eu fiquei revoltado!
De revolta escrevi tanto poema…
Depois, quando a minha alma me disse quanto eu estava errado, rasguei o livro contra a casa Dele (a minha), queimei os rascunhos, pedi-Lhe perdão e prometi não mais invocar o Seu nome em vão.
Na verdade, toda essa poesia tinha sida escrita num grito de revolta por me ter trocado as voltas, tudo o que tinha planificado para a minha vida estava a desmoronar-se.
Afinal, depois de ter professado a minha fé que tanto me elevou, não conseguia entender a razão por que tudo me tinha saído errado.
Abandonei o atletismo, dediquei-me aos filhos, errei, voltei a errar, levantei-me, voltei a cair, aprendi com os meus erros e defeitos que a culpa está em nós e não num deus qualquer.
(Continua)

POETAROMASI disse...

Sabes, quando se escreve com laivos de revolta tudo pode parecer bonito, mas às vezes, passado algum tempo, é tempo de arrependimento.
Pois bem, ainda bem que rasguei a poesia! Eu estava errado – afinal Ele tinha testado a minha fé e eu fracassei.
Hoje sei quanto estava errado. O meu filho raramente tem convulsões e reconheço que em 1971 o meu filho se salvou pela fé que nessa altura depositava Nele.
Há uns anos fui operado no I.P.O e fiquei feliz por tudo não ter passado de um grande susto. Recomecei a olhar… vi o sol com outras cores e aprendi a dar outro valor às coisas por mais insignificantes que pareçam.
Em 2002 a minha esposa (do meu segundo casamento) começou a verificar que estava mais lento, que demorava mais a tomar banho e mexia a mão esquerda com dificuldade. Fui ao médico e saí de lá diagnosticado com a doença de Parkinson. E nesse dia escrevi mais ou menos assim:
E de repente o céu desabou em mim! Uma flecha certeira transpôs o meu coração!
Olhei a ferida – das feridas escorre o vermelho cor de sangue, mas não vi sangue, porém, estava ferido e nem queria acreditar! (Às vezes a vida é “madrasta” e cheia de sofrimentos.) E vieram-me à cabeça tantos pensamentos.
Recordei então os meus tempos “menino”, quando os sonhos ainda mal se abriam, e ali estava a correr com outros meninos, pelas ruas e calçadas do meu bairro em Lisboa. Recordei os tempos em que fui até campeão nacional de atletismo na equipa do “Sporting Clube de Portugal”.
Como deve compreender, foi terrível o efeito quando soube que tinha Parkinson.
Porém, a força que eu descobri errando e tendo-me Deus dado sinal que me permitiram de novo Vê-lo, nos mais insignificantes acenos, tem-me dado a coragem para enfrentar esta segunda leva de provação – a minha Parkinson.
Então, conduzido pela fé e temperança, sem estar resignado, estou lutando para que esta barreira que levita no meu corpo não passe de uma simples aragem.
É por isso que tenho tentado fazer algo por mim, nomeadamente conhecendo e sabendo sobre este mal. Depois há a minha fé, deposito NELE toda a minha força, e com essa força redobrada encaro as coisas como uma não-fatalidade.
Por isso tenho ido à luta, tentando ultrapassar os sintomas da minha doença e acreditando que amanhã haverá um milagre qualquer que me traga de volta mais alegria de viver.
Eu sei que às vezes me vou abaixo! Mas quando pareço estar a bater no fundo há como que uma força qualquer que se renova e desdobra e me dá alento.
Estava para acabar mas vou contar outro segredo da minha alma.
Durante mais de 25 anos andei, aos Sábados, pelos caminhos da arqueologia na Igreja de São Vicente de Fora em Lisboa – a minha grande paixão. Certo dia, ao escavar uma sepultura medieval, deparei com aquilo que restava do que tinha sido uma sola de um sapato que supostamente pertenceu a um defunto e reparei que aquela sola estava metida no meio duma forte e grossa raiz dum plátano. Fiz então uma descoberta: as raízes do velho plátano tinham passado aquele obstáculo passando as raízes através dos furos feitos na sola pelo sapateiro.
Afinal a raiz grossa ramificou-se para ultrapassar o obstáculo, e voltou a reunir-se mais à frente, formando novamente uma raiz compacta em busca do alimento que permitiu a frondosa árvore viver.
Se até a raiz ultrapassou o obstáculo qual a razão de desistirmos?

POETAROMASI disse...

Para finalizar deixo outro poema:
ESCARPA
Rogério Martins Simões

Afronto e confronto
os meus pensamentos esguios.
Dói-me esta dor
que se entranha
e não estranha
os meus pensamentos frios.

Só saltarei
nos limites conscientes,
da inconsciência,
pelo prazer de voar.
Abeiro-me da escarpa
de sentido único:
Único prazer que arrebata
a minha consciência,
e que me ensina a não voltar.

Não estou só!
Estou parado!
Espero que me empurres…
ou me salves...

Lisboa, 14-05-2009 13:11:29

(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)