Havia tanto tempo que caminhava sozinha, e nos olhos a esperança jamais deixara de morar, ao contrário das forças que se esgotavam a cada passo, em silêncio.
Parava sempre que as pernas se recusavam a obedecer à vontade, e nesses breves momentos de paz, deixava-se levar pela inconsciência dos sonhos, quase sempre, demasiado fugazes para que deles restassem recordações, quase sempre, de uma beleza poética capaz de embalar o mais apático dos homens.
Fosse assim a realidade, e decerto não seria o sangue que a espaços jorrava de seus pés, pretexto credível para a cada-vez-maior inércia com que se debatia, findos os caminhos fáceis da vida, perdida a inocência algures no meio de um trajecto tão longo, que já mal conseguia recordar os motivos que a conduziram a tal desfecho.
Queria rir da sua própria figura, mas já mal lhe restavam forças para respirar...
E tudo o que queria era continuar a caminhar, e nunca, jamais, acordar, por recear vir a descobrir que, afinal, nunca havia saído do lugar...
3 comentários:
Muito bom como sempre! Dor, sangue e sofrimento em caminhos difíceis da vida...
Por vezes é bom acordar, há sonhos deveras mais dolorosos do que a própria relidade...pefiro controlar a realidade por mais dificil que seja do deixar-me levar pela inconsciência dos sonhos...
Gostei!
bjs
Sonho, realidade, que pode ser mais duro? Para quem não controla os sonhos eles podem ser mais duros, podem levar-nos a criar uma realidade onde a luz não consegue entrar. Tudo depende de quem sonha e de quem vive. Excelente, como sempre.
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