Cão da Morte

(Imagem: Link)


O cão da morte vagueia pelas ruas e por ele ninguém dá, até ao momento em que a sua mordida entra bem fundo no coração dos que por ele clamam, inconscientemente, talvez.

Vale tão pouco a vida de alguns, que bem pensada, não daria sequer para preencher um mero parágrafo, de um qualquer texto como este que vos escrevo.

Conheço o bicho como poucos, apesar de por ele nunca ter sido atacado, pelo menos, directamente.

Tenho o coração inquieto, como se já não necessitasse sequer de uma ténue faísca, para explodir definitivamente dentro de um peito que foi, sempre e invariavelmente, demasiado exíguo para o conter.

Perdi o controlo de quase todos os veículos tripuláveis desta vida, e do cheiro a pneus derretidos que emana de todos os sítios por onde passei, mais não resta senão a dor, inexplicável, de nunca ter, verdadeiramente, sido alguém...


Sinto o gume frio da navalha até ao osso... Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço...

2 comentários:

Brown Eyes disse...

Este cão de morte fez-me lembrar alguém que tem mordido mas, consegue escapar, sempre, quando os homens do canil o tentam agarrar. Será o mesmo? Beijinhos

Fábio Silva disse...

Mortos por dentro, vivos por fora. Como os autocarros: cinzentos por dentro, amarelos por fora. Zombies que deambulam pelas ruas, achando que nada têm mais a viver, quando já estão mortos à tanto tempo. Andam, comem e reproduzem.
Mortos por dentro, vivos por fora.