Capítulo II - A Árvore


(Imagem: Link)



Derivações egocêntricas de um destino parcialmente comum: o que são eles, além de mim? Que será de vocês, depois de mim?

Tempestade cerebral inusitadamente provocada por questões sem importância. Porquê? Sinais dos tempos, e dos estados. Definham, as mentes, aprisionadas pelo seu próprio circo de feras mansas que um dia ousaram prender.
Era tão livre como o escaravelho que vive do proveito tirado pela quotidiana tarefa de mergulhar nos excrementos alheios. Aliás, rejubilava todos os dias, sempre que se olhava ao espelho e concluía, "sou um escaravelho feliz".

Senhora de preto, dói-lhe a alma vazia por já não ser capaz de a preencher com a essência de toda a minha ausência? Tem bom remédio. Edifique um teatro e nele represente, até ser capaz de fingir na perfeição, alguém que, não sendo, seja melhor que tudo aquilo que algum dia foi.

Porque eu sou a árvore que em terra fértil deu frutos. Foi a partir de mim que muito construístes, senão vejamos: não brotou dos meus ramos a essência de todas as desgraças que conhecestes nos últimos vinte e três anos? Sufocados pelo veneno poderoso da minha seiva, atraídos a mim como formigas ao açúcar, toda a vossa existência desfeita, sois agora o adubo que, em excesso, me há-de secar até à última ramificação.

Peço, apenas, que vos despacheis. O calor aperta e eu morro de frio, fui feito ao contrário do mundo e morrerei de pé como árvore, ainda que de rastos, como a larva que enterrou no solo a semente maldita que originou o fim dos mundos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez não sejas o único a ter nascido ao contrário. Oh, como eu me revejo nas tuas palavras, nas tuas metáforas sobre o teu mundo que, pelos vistos, poderiam ser também o meu.
Não estará antes o mundo ao contrário de nós?

Adoro passear por aqui, ler o que escreves.
Ainda consegues encontrar todos esses subterfúgios nas palavras, nas tuas histórias, eu já não. Talvez por não ser árvore e já não me conseguir erguer...

Talvez ainda, pudesse vir aqui dizer-te palavras positivas, sobre tanta negatividade nas palavras.
Por vezes queria, admito. Porque admiro o que escreves, a forma subtil de te expores, sem te expores.

Mas não, apenas te consigo dizer isto.

Life is killing me, too...

Um beijo *