Memoirs of the Ruthless - Part I

"Observei esse teu palácio de tormentos... Quem to construiu, e porque nele vives?" - perguntaram-lhe.

A resposta não a sabia, naturalmente. Desde que nascera não conhecera outro refúgio, desconhecia as razões pelas quais alguém foi capaz de o fazer nascer, ali, naquele sítio maldito, e ali o aprisionou para sempre.
Os senhores do lugarejo apercebiam-se que algo se passava com aquele estranho ser que por ali vagueava, sem rumo - impotentes perante a sua dormência.

E ele lá continuava, consumido pela ânsia da sua morte eminente, pela vida que lhe passava ao lado, cada vez mais longe, tão longe... Envolto nos seus nojentos vícios, escrevia sem parar uma espécie de diário monológico que se arrastava indefinidamente, como se cada dia fosse o último. Mas nunca mais chegava, o dia, o tal dia pelo qual esperava há tempo demais...

4 comentários:

Pólvora disse...

....então e eu? passei-te ao lado? "don't t hink so", vamos lá a levantar essa cabeça e respirar bem fundo....mais um dia que aí vem.

Amo-te muito

Anónimo disse...

para isto meu caro... não há palavras que o comentem. Apenas um sentimento que julgo deveras comum a todos esses almadiçoados que um dia sonharam os seus sonhos impossíveis. Gostei muito deste texto. o mais interessante desde que aqui venho espreitar.. Os meus cumprimentos.

Demian disse...

Muito obrigado, António João Mito. Um abraço

Sílvia disse...

Saberá ele sabe que pode voar a qualquer momento? Um simples erguer a cabeça será a primeira lição de voo.
Poderá ser.