Insuflável

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Passam palavras pelas bocas dos outros, quase tantas como as moscas num dia quente de verão, e nós, meros farrapos num saco de palha esquecido à beira do mar da solidão.

Não pesassem tanto as pálpebras, de tantos caminhos percorridos, e quem sabe, novos rumos descobertos pela manhã, um dia.

Não fosse a rigidez de todos os músculos, e quem sabe, pernas para cortar metas em lugares nunca antes alcançados, os primeiros de toda uma vida...

Não.

Farrapos foram feitos para voar ao sabor do vento, impérvios réis da sem vontade, senhores de coisa alguma senão o pérfido cheiro do bolor que se acumula no fundo de um saco de palha, esquecido, à beira do mar da solidão...

Loop

(Imagem: Link)


Haviam-lhe dado quase tudo o que necessitava para viver.

Puseram à sua disposição matéria prima que, soubesse trabalhá-la devidamente, lhe teria permitido ser feliz, nem que fosse só (por) um bocadinho...

Mas se, rodeado de gente, a solidão...

Costumava sonhar com intermináveis planícies verdejantes, e árvores... Trepar por elas acima, e uma vez no topo, colocar a mão sobre a testa, e um pouco a custo, por entre os raios de sol, vislumbrar um futuro auspicioso, mas...

A escuridão...

Sim, a noite.

Interrompera-lhe sempre os sonhos, tomara em seus braços a sua alma e para sempre o condenara à inevitabilidade da sua amargura...

Tivesse ao menos quem fosse capaz de o entender, numa simples troca de olhares... Talvez fosse então capaz de desbravar o seu caminho, encontrar o seu lugar no mundo, ser alguém por um minuto que fosse...

Mas se, rodeado de gente, a solidão...

À noite... A solidão.