Há tanto tempo que tinha tanto para dizer... Há quase tanto como o que passara desde que houvera perdido o fôlego, algures num tempo do qual já perdera a noção, há tanto tempo...
Expropriado do seu próprio ser, jazia sobre o ventre da desgraça como um louco, um quase-morto, inexoravelmente expungido de um mundo para o qual não fora talhado, e com o qual jamais soube lidar, apesar do tempo.
Vira-se desapossado de tudo aquilo que o fizera gente, e à falta de voz para gritar ao mundo o desespero que lhe consumia a alma, sorvia golfadas de um oceano sem fim, demasiado imenso para que pudesse augurar terra firme, náufrago, prisioneiro que era dos seus próprios reflexos de intemporalidade...
Libertar-se-ia de tudo aquilo, a tempo?
(...)
Se ao menos tivesse tido tempo...