Addictive

(Imagem: Link)

Um manipulador nato.

Era-o, mas não por querer sê-lo. Corria-lhe simplesmente nas veias, sangue contaminado com a maquiavélica fórmula de uma indesejável arte: a de manipular os outros, a mais negra nuance de uma personalidade que era, inclusive, mais forte que a sua própria vontade.

Negra pois, seria impossível classificá-la de qualquer outro modo, intrínsecos que eram os valores da dignidade humana, do respeito pelos outros, da necessária e suposta inabilidade para os moldar a seu bel-prazer, pois seria sempre essa a única forma de não sentir remorsos, no dia do seu juízo final.

No final, e fazendo uma retrospectiva cínica pelos meandros tortuosos do seu passado recente, apercebeu-se de que a verdade era só uma: havia-os vergado a todos, perante as suas vontades.

De uma forma ou de outra, havia obrigado meio mundo a ceder perante os seus caprichos, insignificantes ou não, pouco importava.

A todos... Menos uma.

Uma pessoa, no meio de todas as outras, ousou resistir-lhe, a ele, logo a ele!

Ignóbil criatura, essa. Poderosa, sustentada na rocambolesca essência do seu passado, servira-se dele com inigualável mestria, provocando no dito personagem, acessos de fúria incontroláveis, quiçá, pela afronta que ousou fazer-lhe, obrigando-o pela primeira vez, a recuar perante um seu semelhante.

Frágil, no entanto, perante o inevitável confronto com a realidade dos dias, mais dura e cruel que os narcóticos criados no calor da excitação, mais letal que a dose de bom senso que lhe foi impingida, segundos antes do último adeus à luz da vela, quente, quente.

Não tivera tido sequer, tempo para lhe perguntar, por que motivos lhe havia mentido de forma tão cruel.

Tempo não teve, sequer, de olhar para as suas mãos outrora sangrentas, e perguntar a si próprio, onde tinha errado...

E ainda hoje engendra, no seu subconsciente, planos de acção que lhe permitirão um dia, reclamar perante ela, o que lhe é devido, e que nunca, mas nunca, lhe deveria ter sido negado.

Convencido apenas, de que esse dia chegará. Nesta vida ou...

2 comentários:

Catsone disse...

Mesmo um bom manipulador só manipula até onde os outros deixam. Geralmente há sempre alguém que os trava e os fazem sentirem-se pequenos como os, por eles, manipulados.

Bom texto. ;)

Anónimo disse...

"Um manipulador nato" ou quem sabe um verdadeiro psicopata que usa o seu encanto para levar a melhor...para fazer dos outros autenticas "marionetas"...

Muito bom

Pandora Salvado