Por entre a ténue bruma que demarcava o profícuo território de onde emergia dia após dia, não mais vislumbrava senão os contornos do cerco que se (lhe) apertava cada vez mais, o cerco castrador de almas e pescoços, o cerco.
Do alto sobressaiam as luzes, por entre a escuridão de todas as almas que trilhavam os penosos caminhos da solidão, e lá de cima, ele que observava, cada vez mais se convencia de que a prisão em que vivia jamais abriria as suas portas, para que de lá pudesse evadir-se, senão para mais, ao menos para que pudesse limpar das narinas aquele cheiro putrefacto a mortes, que teimava em entranhar-se-lhe nos poros, ali, só ali.
Por vezes imaginava-se a bater as asas e a voar para longe dos seus infernos, mas cedo se apercebia de que mesmo possível tal utopia, não existiria do outro lado, um só par de braços abertos para o receber, e isso, por si só, era motivo para repensar o valor e o significado daquilo a que os outros chamavam "amor".
Pensou e repensou, uma e outra vez. Chegou a tantas conclusões, que não caberiam nas paredes da tal cela em que vivia, ainda que impressas em papel e reduzidas ao menor tamanho legível, ainda que a alguém interessassem o suficiente para serem importantes, ainda que...
O diâmetro da bolha que o consumia era já de tal forma imenso, que nem recorrendo a todos os escadotes do mundo seria capaz de alcançar-lhe o âmago, pequeno que era naquele mundo decadente que o viu nascer...
... E para ele morrer.