Unholy Smoke
Ambas as mão ardiam, emuladas por chamas invisíveis que estranhamente não faziam moça alguma, já não sentia dor nem o cheiro hediondo da pele queimada ou sequer ouvia os gritos desesperados, do outro lado do vidro, daqueles que tentavam em vão fazer-lhe chegar a água... Tentava aperceber-se da magnitude do seu desespero, olhando-os com ternura, mas a visão já era insuficiente. Turvava-se e desvanecia-se lentamente, afinal o fumo era tanto que rapidamente escureceu as janelas bloqueando o ultimo campo de visão que o ligava ao mundo.
Pareceram eternos, aqueles instantes finais de uma suposta agonia que era incapaz de sentir, de tão habituado que estava ao quotidiano sofrimento que sempre pautou a sua vida...
Pensava apenas, naquilo que não havia sido, durante a sua inglória passagem pela terrena existência. Em todos os porquês que ficaram por esclarecer, em todas as respostas que jamais foram dadas às perguntas que nunca fez... E chegada a hora de ver satisfeita uma das maiores, foi com alegria que partiu rumo à descoberta daquilo que existe ou não para além do horizonte, ultrapassada a fronteira terrena que sempre limitou e impediu a concretização dos seus maiores sonhos.
Era, finalmente, livre...
(Foi só um pesadelo, rapaz... Já passou.)
... Porque é que não estou aliviado?
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