É uma dor tão forte, que deixou de ser apenas espiritual... Alastrou como um vírus, e aos poucos vai consumindo também aquele corpo inerte.
A "ferrugem" vai corroendo as engrenagens, lentamente, e pouco a pouco vai ficando mais próxima, da tal máquina que tudo controla e que até então se tinha recusado a parar. Terá de o fazer um dia, pensava ele... Só não tinha prevista a possibilidade de não ser ele próprio a escolher esse mesmo dia, como havia planeado vezes sem conta... E essa perspectiva, mais do que qualquer outra, assombrava-lhe os dias e as noites, absorvendo implacavelmente os resquícios da tal sanidade que ainda tinha (por mais inacreditável que fosse, o facto de ainda restar alguma).
E assim, mergulhado no pesadelo da incerteza, passava os seus dias a pensar... Como teria sido a sua vida, se tivesse escolhido outro caminho que não aquele... E como seriam as vidas dos que lhe eram mais próximos, depois da sua partida.
E esta pessoa sou eu, meus amigos... E ao contrário do que possam pensar, isto não é só mais um devaneio desta mente tão débil. Vou mesmo morrer-vos, e quando eu já cá não estiver para vos contar histórias, espero que durante todo este tempo as minhas palavras tenham servido para alguma coisa, quanto mais não seja, para que não tenham dado por perdido o tempo que aqui passaram, a ler tais extravagâncias... ... ...