O cão da morte vagueia pelas ruas e por ele ninguém dá, até ao momento em que a sua mordida entra bem fundo no coração dos que por ele clamam, inconscientemente, talvez.
Vale tão pouco a vida de alguns, que bem pensada, não daria sequer para preencher um mero parágrafo, de um qualquer texto como este que vos escrevo.
Conheço o bicho como poucos, apesar de por ele nunca ter sido atacado, pelo menos, directamente.
Tenho o coração inquieto, como se já não necessitasse sequer de uma ténue faísca, para explodir definitivamente dentro de um peito que foi, sempre e invariavelmente, demasiado exíguo para o conter.
Perdi o controlo de quase todos os veículos tripuláveis desta vida, e do cheiro a pneus derretidos que emana de todos os sítios por onde passei, mais não resta senão a dor, inexplicável, de nunca ter, verdadeiramente, sido alguém...
Sinto o gume frio da navalha até ao osso... Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço...