Cão da Morte

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O cão da morte vagueia pelas ruas e por ele ninguém dá, até ao momento em que a sua mordida entra bem fundo no coração dos que por ele clamam, inconscientemente, talvez.

Vale tão pouco a vida de alguns, que bem pensada, não daria sequer para preencher um mero parágrafo, de um qualquer texto como este que vos escrevo.

Conheço o bicho como poucos, apesar de por ele nunca ter sido atacado, pelo menos, directamente.

Tenho o coração inquieto, como se já não necessitasse sequer de uma ténue faísca, para explodir definitivamente dentro de um peito que foi, sempre e invariavelmente, demasiado exíguo para o conter.

Perdi o controlo de quase todos os veículos tripuláveis desta vida, e do cheiro a pneus derretidos que emana de todos os sítios por onde passei, mais não resta senão a dor, inexplicável, de nunca ter, verdadeiramente, sido alguém...


Sinto o gume frio da navalha até ao osso... Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço...

(Novelos da) Paixão

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Maquinista de quase todos os comboios sem destino, passageiro porém, perante a inevitabilidade de certos fins, impotente que sempre fui perante forças que, instaladas no núcleo central de processamento desta máquina enferrujada, se desencadeiam a seu bel-prazer, sempre e quando, da insalubridade dos dias emergem sentimentos contraditórios, como o sejam, o amor, por oposição à negritude do meu ser.

Em tempos já distantes, achava eu, inocente, ser possuidor de um conhecimento sobre a matéria, de tal forma vasto, que me haveria de impedir de cair nos abismos em que os outros, à minha volta, mergulhavam, também eles assomados pela histeria mais ou menos controlada em que as suas vidas mergulhavam, aquando da chegada do tal cupido.

Os meus ombros serviram de conforto a tantos seres, que por mais que viva, dificilmente derramarei, até ao final dos meus dias, lágrimas que cheguem para equilibrar a tal balança dar-receber (ou não fosse essa a minha sina, desde sempre).

Tantos anos volvidos, e ainda que não completamente convencido, rendo-me por fim às evidências: tudo o que eu pensava saber, sobre o assunto, se resume a um grande, gigantesco, tremendo NADA...

Ou, pelo menos, é desta forma que me apetece pensar, perante os acontecimentos recentes.

Porque, a deixar-me levar pelas marés do costume, ondas gigantes apoderar-se-ão de mim uma vez mais, provocando o derradeiro tsunami que me varrerá da face da terra, de uma vez por todas.

Se será assim, ou com mais molho... "A ver vamos, como diz o cego"...