Histórias se contam, histórias haverão de continuar a contar-se com mais ou menos fulgor, assim o permitam as contínuas e irritantes intermitências de uma vida que à sombra, ou à luz do candeeiro, se dedica cada vez menos à preservação do inestimável valor daquilo que a fez, um dia, valiosamente bela.
Assim eu continue, a acreditar que é possível esquecer. Quiçá não seja, e eu continue apenas a alimentar a vã esperança de um dia subir até ao limite de mim mesmo, pisando e repisando o que me impede por hora de o alcançar… As memórias. As memórias…
Assim vocês continuem, desesperadamente, a tentar tirar-me do tal poço, ainda que não exista no mundo corda alguma, suficientemente longa para atingir o fundo, suficientemente forte para aguentar o peso de vinte e tal anos de frustrações, mágoas e desilusões.
Um dia virás comigo, provarás desta água com sabor a morte que me deste a beber, sabendo que era nisto que me transformaria… E também tu, que cedo arruinaste o futuro do teu próprio projecto, abandonando cobardemente o barco no único bote salva-vidas existente, depois de seres o causador do seu naufrágio. Afundar-se-ão ambos comigo, no dia em que perante vós eu apresentar a factura pelos serviços que me obrigastes a prestar, a mim próprio, e àqueles que menos mereciam estar a passar, e ter passado, por tudo isto…
“Porque quando o sol se puser, poderás ter de enfrentar... o fim…” …
Feliz ano novo, meus amigos.