É cada vez mais difícil impelir este corpo catártico em direcção ao que quer que exista de bom no mundo.
Já nem sequer o vir aqui escrever estas palavras funciona como o refúgio confortável de outrora; é agora apenas mais uma recordação triste do que já fui
(por pouco que tenha sido, sempre era melhor que isto).
Acordar todos os dias despojado de emoções, apenas mais um amontoado de átomos e moléculas
(e sabe-se lá mais o quê)
a vaguear por aí, numa rotina desenxabida da qual é cada vez mais difícil retirar o que quer que seja, de bom, ou pelo menos, de algo melhor que mau.
Anestesiado.
Afinal é a única forma de nos permitirmos continuar sujeitos a uma existência vazia e sem emoção: mergulhando intencionalmente o cérebro neste gigantesco frasco de formol que são os nossos dias
(e nem sequer somos suficientemente interessantes para sermos estudados)
suficientemente bons para sermos amados.
Restam pois as imagens e os sons, as sombras de um passado cada vez mais distante, e a saudade.
Daquilo que fomos, mas sobretudo, daquilo que nunca seremos.
Quanto mais tempo resistiremos ao sufoco de (sobre)viver assim, é a pergunta a que resta responder.
Se descobrir a tempo, cá vos virei avisar.